sábado, 8 de janeiro de 2011

País do futebol

Foi na Roma antiga que surgiu a "política do pão e do circo" como forma de alimentar e distrair uma população que ruia com falta de empregos, resultado da  escravidão camponesa, pois todos migravam para a zona urbana em busca de oportunidades. O Coliseu ficava lotado de gente querendo ver os gladiadores lutarem, esquecendo dos problemas políticos que os abatiam, ainda mais de barriga cheia com a distribuição de alimentos como pão e o trigo. Isso mesmo: o imperador mantinha a população distraída e alimentada para que não se rebelasse contra o Poder.

Ao estudar o assunto no ensino fundamental já afirmava à professora que o circo da política romana eram as novelas e o futebol do Brasil atual. E isso é de fácil constatação, tanto que ao pesquisar o assunto encontrei raciocínio semelhante nas palavras da gaúcha Bruna Rocha Witt, de Osório, até então estudande de letras, através de artigo publicado no site Artigonal,  em 2008.

Eu apenas falava do "circo" atual, pois à época do ensino fundamental ainda não tínhamos  o "Bolsa Família", que todos conhecemos hoje. Mas as novelas já distríam. Funciona, até hoje, da seguinte maneira: o noticiário apresenta boa parte das merdas que ocorrem em nosso sistema político, e logo depois inicia a novela, e as preocupações da sociedade brasileira se voltam à descoberta de quem seja o assassino do Saulo. É, isso mesmo. Eu não vejo ninguém comentando sobre como se desenrolou o caso do dinheiro nas cuecas, mas tão somente sobre quem matou o Saulo... e para qual time irá o Ronaldinho Gaúcho. Pronto, missão cumprida: a população pobre satisfeita com o Governo, que lhe dá de comer, e o resto do país discute futebol, o golasso da última rodada, o placar ruim do time adversário...

O futebol, no papel do circo, é mais forte ainda do que o pão: classe baixa, média e alta utilizam-se dele como forma de distração. Empresários se distraem investindo altas quantias em clubes, na contratação de jogadores. Transformam um esporte tão bacana de ser praticado em um emaranhado de negócios, regado a milhões e milhões de reais. Pessoas  fazem empréstimos parcelados em vinte meses para poder ver o time jogar em uma competição internacional. Pessoas deixam de estudar, trabalhar, deixam de passar tempo com a família para ir ao estádio de futebol, muitas vezes em outra cidade, a centenas de quilômetros para ver o time do coração.

Enquanto isso, o sistema político segue com o seu sistema de corrupução, sugando o dinheiro do povo. Dinheiro que deveria se destinar à segurança, à saúde, e sobretudo à educação. Se pensarmos bem, até que tem esse destino: segurança pessoal dos deputados e senadores; educações de seus filhos, nas melhores escolas e universidades; e saúde para as suas famílias.

Mas é que o Brasil é o país do futebol, e não do desenvolvimeno. Enganado é você que pensa que não somos desenvolvidos. Somos sim: o povo tem o que comer,  e ainda, possui a melhor de todas as distrações: futebol, regado à muita cerveja com os amigos. Quer o que melhor que isso? Para quê insistir na fiscalização dos atos de nossos governantes, para quê? Isso não dá em nada mesmo. O negócio é curtir a vida, e se divertir fazendo festa, assistindo a minha novelinha e o meu fuebol. Se faltar comida, o governo dá. Pronto! Está resolvido o problema do Brasil.

***

Eu já joguei futebol e sei que é apaixonante. Muitos garotos ganham a vida com ele, tiram suas famílias da miséria com seus salários exorbitantes. É a forma mais fácil de sair da miséria para uma vida de luxo. Conquistar diplomas, para quê? Se eu usar um correntão de ouro, e jogar em um time famosos do Brasil, eu estou feito! Mulher, carro importado, roupas de marca.

Mas eu jogava por esporte, e tive de parar devido às lesões no joelho. Talvez se eu não tivesse jogado futebol um dia, não fosse, também, um apaixonado pelo esporte. Talvez eu nã o comentasse a necessidade de atacante que o meu time sofre. Mas, assim como o resto da população brasileira, eu comento, e dou atenção a isso. A diferença é que também estou atendo à realidade nua e crua do país do futebol: pão e circo aos brasileiros, e em fevereiro, tem carnaval.

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Concluída a leitura de "A menina que roubava livros", apenas um comentário: excelente!

2 comentários:

  1. À parte a critica que há em seu texto, tenho de confessar, que venha o Carnaval!

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  2. Pensava hoje mesmo nisso. Sei que não és muito fã do Paulo Santana, mas lendo o sua coluna no jornal zero hora e fomentando um debate com os indivíduos que aguardavam sua vez de cortar o cabelo, tomamos o mesmo rumo e chegamos a mesma conclusão que tu. Tudo bem, até acho que essa história de criticar nossa postura nacional de "pão e circo" já ta pra lá de desgastada, não por estar correta, mas por ter se tornado um hábito, um item incrustado na cultura brasileira, e digo isso sendo um homem que não tem a menor simpatia por futebol - como bem sabes. Bem, o tal colunista justificava sua opinião avessa a realização da copa no Brasil em 2014 exemplificando que uma catástrofe como a de São Lourenço do Sul poderia ser minimizada consideravelmente investindo em equipamentos meteorológicos que custam a quantia ínfima de 300 mil. Os bilhões destinados a obras de infra estrutura e artigos de luxo para a copa não vão ser duramente criticados neste comentário, mas que certamente exerceriam um papel magnífico se revertidos à saúde, também serve como exemplo, tenho de dizer.
    Contudo não é assim que o mundo capitalista funciona e louvada seja a desgraça alheia que movimenta a economia e enriquece os poucos de sempre. 50 milhões foram disponibilizados pelo governo estadual, uma linha de crédito que pode ser adquirida para reconstrução de suas vidas em um banco S.A. de economia mista que, como qualquer outro agente financeiro, não empresta dinheiro de graça. OH! Então melhor deixar a casa bagunçada que não aparece a sujeira, e se arrumar, perde o salário a faxineira.

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