di.mi.nu.to (lat diminutu) adj. 1 Reduzido a
pequenas dimensões. 2 Muito Pequeno.
3 Escasso.
Não
pude deixar de verificar, no Dicionário Pasquale, o significado da palavra
“diminuto”, pois foi a que me veio à cabeça enquanto me encarava no espelho. A
academia estava relativamente cheia, o que tornava a realização dos exercícios
um tanto quanto difícil. Os aparelhos estavam sempre ocupados, e revezar não
era a melhor solução: geralmente eram trinta quilos de diferença entre os pesos
que eu erguia e os que o restante dos rapazes erguiam, o que daria muito
trabalho para retirar e recolocá-los. Restou-me realizar os exercícios de
bíceps, o que não exige aparelho, e o peso que eu utilizava estava muito aquém
ao dos companheiros musculosos, não sendo disputado.
Enquanto
eu fazia, tranquilo, o levantamento dos seis quilos em cada braço, sem esboçar
nenhuma alteração na expressão facial, olhava para o lado e via aqueles caras levantando, no mesmo exercício que
eu, vinte quilos em cada braço, em “caretas” intermináveis. O bíceps deles
crescia, na mesma espessura das minhas coxas – ok, exagerei um pouquinho, mas
só um pouquinho. Ainda, outros fazendo o supino com uns cinqüenta quilos de
cada lado. E eu feliz da vida com quinze, realizando com esforço a última série,
de um total de três. Enquanto eu terminava o exercício, eles se admiravam na
frente do espelho, satisfeitos com os resultados que obtinham. Passei a
imaginar se não dariam um beijinho no espelho, em suas bocas refletidas, em
paixão às próprias imagens.
Não
tive como não lembrar o primeiro dia em que botei os pés em uma academia de musculação.
Depois de preencher a ficha de inscrição, realizar a pesagem e a metragem, fui
ordenado a pedalar durante uns dez minutos, como forma de aquecimento. Sentado
na bicicleta ergométrica, que ficava ao lado da porta, analisava os brutamontes
se exercitando, cerrando os dentes, olhando-se nos espelho, fazendo “muquinho”.
Quase saí correndo. O que eu estou
fazendo aqui, foi o que pensei.
Não
lembro, mas acredito que o exercício de bíceps fora o último que realizei na
academia. Depois, só botei os pés lá dentro para falar com o dono, o qual se
tornara meu amigo. Justifiquei minha desistência – a falta de tempo, além de
não suportar aquelas caretas, o que não revelei – e me despedi, enquanto os
“musculosos” permaneciam eufóricos em suas conversas, sobre tríceps, bíceps,
peitoral, hipercalóricos, hipertrofia, hiperfutilidades. Depois daquele dia fui
para casa e li mais páginas do que o costume de um livro sobre a memória
jurisprudencial do ex ministro Evandro Lins. Mas fui feliz, por ter
preocupações muito mais plausíveis do que um corpo escultural.
Continuo
me exercitando, mas sem precisar me sentir “diminuto” para isso. E faço isso de
graça, o que é ainda melhor.