terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Diminuto


di.mi.nu.to (lat diminutu) adj. 1 Reduzido a pequenas dimensões. 2 Muito Pequeno. 3 Escasso.

Não pude deixar de verificar, no Dicionário Pasquale, o significado da palavra “diminuto”, pois foi a que me veio à cabeça enquanto me encarava no espelho. A academia estava relativamente cheia, o que tornava a realização dos exercícios um tanto quanto difícil. Os aparelhos estavam sempre ocupados, e revezar não era a melhor solução: geralmente eram trinta quilos de diferença entre os pesos que eu erguia e os que o restante dos rapazes erguiam, o que daria muito trabalho para retirar e recolocá-los. Restou-me realizar os exercícios de bíceps, o que não exige aparelho, e o peso que eu utilizava estava muito aquém ao dos companheiros musculosos, não sendo disputado.

Enquanto eu fazia, tranquilo, o levantamento dos seis quilos em cada braço, sem esboçar nenhuma alteração na expressão facial, olhava para o lado e via aqueles caras levantando, no mesmo exercício que eu, vinte quilos em cada braço, em “caretas” intermináveis. O bíceps deles crescia, na mesma espessura das minhas coxas – ok, exagerei um pouquinho, mas só um pouquinho. Ainda, outros fazendo o supino com uns cinqüenta quilos de cada lado. E eu feliz da vida com quinze, realizando com esforço a última série, de um total de três. Enquanto eu terminava o exercício, eles se admiravam na frente do espelho, satisfeitos com os resultados que obtinham. Passei a imaginar se não dariam um beijinho no espelho, em suas bocas refletidas, em paixão às próprias imagens.

Não tive como não lembrar o primeiro dia em que botei os pés em uma academia de musculação. Depois de preencher a ficha de inscrição, realizar a pesagem e a metragem, fui ordenado a pedalar durante uns dez minutos, como forma de aquecimento. Sentado na bicicleta ergométrica, que ficava ao lado da porta, analisava os brutamontes se exercitando, cerrando os dentes, olhando-se nos espelho, fazendo “muquinho”. Quase saí correndo. O que eu estou fazendo aqui, foi o que pensei.

Não lembro, mas acredito que o exercício de bíceps fora o último que realizei na academia. Depois, só botei os pés lá dentro para falar com o dono, o qual se tornara meu amigo. Justifiquei minha desistência – a falta de tempo, além de não suportar aquelas caretas, o que não revelei – e me despedi, enquanto os “musculosos” permaneciam eufóricos em suas conversas, sobre tríceps, bíceps, peitoral, hipercalóricos, hipertrofia, hiperfutilidades. Depois daquele dia fui para casa e li mais páginas do que o costume de um livro sobre a memória jurisprudencial do ex ministro Evandro Lins. Mas fui feliz, por ter preocupações muito mais plausíveis do que um corpo escultural.

Continuo me exercitando, mas sem precisar me sentir “diminuto” para isso. E faço isso de graça, o que é ainda melhor.